Autointitulado um escritor nervoso, Javier Marías disparou
recentemente, em entrevista ao jornal El País, que a internet organizou a
imbecilidade pela primeira vez no mundo.
Fiquei pensando que Javier tem razão, mas, de assalto, uma
idéia me assombrou: afinal de contas, o que é o imbecil?
O pensador mineiro, decano de tecnologia da informação,
Lucio Fonseca, me lembra num post recente, citando George Johnson (Fogo na
Mente) que crenças religiosas e teorias científicas
bem podem ser somente construções mentais, feitas pelo cérebro humano e que,
normalmente, não têm a ver com a realidade.
Meu gosto por desafiar o Google é notório. Vamos a ele!
Digito “Obama is an asshole (Obama é um idiota). 920000
resultados! Agora “Obama is an wise (Obama é um sábio). Recebo 56.500.000
resultados! Ponto pro Obama.
Mas, atento, dirá o leitor que Obama não vale, que é
tendencioso. Tentemos alguém acima de suspeitas... Vejamos... Que tal Cristo?
Para imbecil, 2.500.000 resultados. Para sábio,
4.250.000...
Concluo, se puder concluir, que Obama manda melhor que
Cristo nesta terra onde tudo se prova.
Em busca de respostas, tropeço em “O
Mestre Ignorante, cinco lições sobre a emancipação intelectual”, de Jacques
Rancière. Relembra a história de Joseph Jacotot,
um professor do século XIX que rompe com o modelo de ensino quando prova que é
possível ensinar sem conhecer a matéria ensinada, se nos dispusermos a libertar
o espírito de quem aprende e o emanciparmos intelectualmente. Está lá, contado
e provado.
Está certo Javier Marías, quando diz que a
imbecilidade foi organizada na web, mas sua frase esconde uma verdade maior, a
de que a imbecilidade política, cultural ou de qualquer matiz não é filha da
internet, mas do caminhar da humanidade. Se tudo ia ser globalizado, porque não
a idiotice?
A missão de quem educa é emancipar, não
doutrinar. É não se calar sobre suas convicções, mas ajudar o filho, o aluno, o
membro de partido ou de igreja a ouvir e pensar e então concluir com sua própria
cabeça. Por fim, a missão de quem instrui é discordar, quando for o caso,
sempre com respeito.
No limite do que é direito humano (e, meu
Deus, o que são mesmo os direitos humanos?), todo ignorante tem direito aos
seus quinze minutos de fama, como diria Warhol. Somos nós, os leitores, alunos da
internet, esta mestre ignorante, que devemos nos emancipar intelectualmente e
pensar sozinhos, não guiados.
Junta um, junta outro, é certo que Matrix
é aqui. Difícil é saber, na terra onde tudo se prova, quem eu sou. Posso ser o
escolhido Neo, mas bem posso ser o agente inimigo do sistema.
É Duro... Terei que decidir sozinho!