A ninguém quero convencer.
Quero praticar.
Nenhum argumento é mais forte
que nossa prática.
Um grande amigo de horas filosofais me lembra que o mundo é
um alvo móvel.
Entre muxoxos e desespero, invoco o salvador, não o
Salvador, que a este recorrerei em casos terminais, mas ao Clovis, admirado
comum:
_ Valei-me Clóvis de Barros, salvai-me com a ética!
Clóvis não responde, pelo menos não a tempo de impedir que
a noite vagueie entre espirros de uma gripe mal acabada e pensamentos
existenciais vagabundeando as idéias.
Levanto da cama antes do toque calmo que ensinei a meu
smartphone. Para a gripe decidi-me por experimentar um Jala Neti que,
improvisado, mostra-se eficaz. Encontrei Jesus com um descongestionar de fossas
nasais e de alma.
Para o caso do alvo móvel, cedo ao amigo Nelson. É verdade,
a tecnologia, a vida moderna, se tornou um alvo móvel e, fuja-se desta premissa
para se estar condenado às chagas ardentes do ostracismo.
O que uma empresa quer hoje, quer diferente amanhã. Nós,
consumidores exigentes e originais acordamos todos os dias para desejos novos,
muitos deles inventados pelos magos das eternas startups, nada que venha de
nossas mentes ou espíritos.
Sim, o mundo quer mais e é justo que queira. As empresas
querem mais e é justo que queiram. Não vindo Clóvis, pelo menos não ainda,
recorro ao José Pacheco, educador Português, para revisitar o paradoxo do
ensino: alunos que sobrevivem, alunos que se apagam, professores clientes,
professores fornecedores.
A busca é a mesma. Em tudo, na tecnologia ou na educação o
mundo se transforma com tal rapidez que não sabemos o que os outros querem, o
que querem os alunos, os educadores, as escolas, o governo, qualquer cliente e
somos todos clientes uns dos outros.
Pacheco me ensinou sobre individualidade na escola e o
marketing moderno responde com a relação um-a-um no varejo. Se somos únicos,
precisamos de respostas únicas.
Então, chafurdo a alma mal acordada para encontrar o que me
incomoda e respondo:
_ Não se sustenta!
Não podemos despertar todas as manhãs para tirar na sorte o
que vamos pedir do outro. Temos que avançar, sejamos empresas ou pessoas, para
um mundo melhor e, sabe lá o criador, mais global, o que quer que isso
signifique.
Não desafio o mundo a ser previsível, mas desconfio que a
natureza tenha lá suas regras e acho presunção da raça humana querer não fazer
parte delas.
Não sei se é um discurso ético ou contra-evolucionista, não
sei. Sei apenas que as relações das empresas com seus fornecedores, de
professores com seus alunos, de pais com seus filhos, de guias espirituais com
seus rebanhos, tudo isso vice-versa e quanto mais venha, estas relações
precisam ser honestas.
Se perdermos a capacidade de dizer não quando devemos, se
continuarmos a brincar uns com os outros na hora de comprar, vender, ensinar,
orar, se não formos claros quanto ao fato de estarmos avançando e queremos que
os outros nos atendam nestes avanços, só conseguiremos provar duas coisas:
Primeiro, que não sabemos para onde vamos e tateamos, cegos
de inovação, por um mundo que nem fazemos idéia de qual seja.
Segundo que, estando certo Einstein, Deus pode não jogar
dados com a natureza, mas nós jogamos.