Com jardins
Aprendi a
recomeçar.
Falo então de gestão, não de jardins. Foi já maduro que comecei a jardinar, quase por acidente, um tanto de pena de um monte de plantas que, deixadas em terra seca à própria sorte, morriam. Resolvi cuidar.
Meu compadecimento alcançou primeiro os vasos em seu estado precário e, pouco depois, encantaram-me flores e pequenas árvores que, acredite, pensei que sorriam para mim cada vez que as aguava.
Começaram a me ensinar e fui aprendendo, feito agora um aluno fiel. Passei a sofrer de um mal que acomete irremediavelmente todo cuidador de plantas: passei a falar com elas e, falando, eis-me aqui, teimando em contar o que me ensinaram de gestão.
Já devo ter dito de outra vez que me ensinaram primeiro a recontar o tempo. Quando se planta, não somos mais senhores do relógio: tudo tem seu tempo na face da terra...
Vi depois que cada uma era diferente da outra. Não podia tratar a todas de forma igual e pretender resultados iguais. A umas, mais água, a outras, sombra e, cuidadas assim, como seres especiais, todas viçavam, embora viçassem diferente, umas azuis, outras amarelas, outras sem flores e de um verde deslumbrante.
Aprendi sobre ervas daninhas e plantas à toa. Das primeiras soube que não lhes bastava cuidar na superfície. Vasos inteiros foram replantados paraextirpar batatas pequenas e recônditas no seio da terra. Das segundas, passei a apreciar a beleza que surgia quanta vez, em pequenas flores inesperadas e belos ramos de sementes.
Aprendi que, quando adubamos, os resultados são lentos e que muito adubo pode matar.
Aprendi a perseverar e a ter foco, fruto da paciência que me foi exigida.
Aprendi a ouvir mais e a ouvir o silêncio.
Aprendi a admirar e agradecer cada vez que um pé de figo num vaso me brindava com
figos enormes e doces.
Aprendi a me orgulhar da minha bela e verde equipe e a sofrer com ela quando a doença acometia algum membro, mas aprendi também que o cuidado quase sempre era capaz de regenerar as mudas. Quase sempre!
Com jardins aprendi a recomeçar...
Acho que jardinagem devia ser matéria de escola, desde a tenra idade e, mais ainda, nas faculdades, mestrados e doutorados de gestão. Um cuidador de plantas aprende mais sobre gerir pessoas em seis meses de jardinagem que em seis anos de escola e torna-se humano de verdade, com o que há de mais desafiador na humanidade.
Aos que duvidem, os desertos!
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